quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Stiletto


"Nunca, jamais, em tempo algum, pareça desconfortável ou reclame de um salto alto. Dê sempre a impressão de estar à vontade nas alturas."
Christian Louboutin, designer de sapatos


poucas vezes temos a oportunidade de observar o mundo que nos cerca. quando conseguimos, notamos como certas coisas que nós achávamos que conhecíamos bem nos surpreendem. ontem eu tive essa epifania quando fui para moema procurar um sapato para um casamento.

minha missão era bastante simples: uma vez que as maiores lojas da região (shoestock, jorge alex, santa lolla e studio tmls) estavam todas em liquidação - assim como todo o varejo de moda da cidade -, era a época perfeita para procurar por um sapato bom e pagar um preço mais justo por ele. peguei o meu bilhete único, meu mp3 e saí bela e saltitante na minha busca.

primeira parada, shoestock:
me assustei assim que cheguei na porta. devo lembrar que eram 2 e meia da tarde quando eu cheguei na loja e ela estava lotada, uma profusão de mulheres que andavam por todos os lados e falavam alto e eu só via os sapatos passando sobre a minha cabeça e em todas as direções. impressionante como as palavras 'sapato' e 'liquidação' (ou, melhor, 'queima de estoque') são capazes de transformar um grupo de mulheres (que provavelmente devem ser pessoas normais e centradas) num bando de bárbaras. eu nem conseguia me concentrar direito em olhar os sapatos, o espetáculo à parte era hipnótico demais... isso sem contar que, quando eu comecei a procurar aquilo que eu queria, me decepcionei bastante ao não encontrar. pior: tudo aquilo que eu gostava um pouco mais era muito acima do meu orçamento, provando aquilo que a minha mãe sempre me disse: eu tenho um dedo podre pra essas coisas... sempre o que eu gosto é o mais caro. mas não serei injusta: vi alguns pares bastante simpáticos e com preços acessíveis, mas, como não atingi o meu objetivo ali, segui em frente...

segunda parada, studio tmls:
eis uma loja que é um desperdício. tem um potencial absurdo, pois faz sapatos realmente únicos, têm um acabamento impecável e, por mais que seja cara, está na mesma linha das arezzos e corellos da vida, sendo que a studio tmls é bem mais diversificada e original, mas ela é marcada com o estigma de ser inacessível. tanto é que eu só passei na frente da loja, que, obviamente, estava vazia. comparando com as outras lojas da região, eu percebi qual é o grande erro cometido pela tmls: parece uma butique. assim, você não chega, procura o seu número e prova ali mesmo e vê sozinha se quer comprar ou não. você chega, precisa chamar uma vendedora, mostrar o que você quer no seu número, aí ela vai pro estoque, procura, traz 40 caixas (porque nunca vem só o seu sapato, ela desce a loja inteira pra você) e aí você prova e vê se quer comprar ou não. como ontem eu não tinha nem dinheiro, só tava indo pra fazer pesquisa, nem me abalei para entrar, mas fato é: eu odeio quando eu preciso da vendedora para me ajudar. e isso é algo que, pelo menos no meu caso, eu acho muito irritante. talvez se eles tentarem facilitar a vida de quem vai na loja tornando todos os sapatos mais acessíveis fisicamente ao público, o lugar não fique às moscas.

terceira parada, santa lolla:
essa era uma que eu só fui ficar sabendo da existência ontem. estava procurando a loja do jorge alex quando a vi, com seu pé direito alto e imponente, e decidi entrar, por curiosidade. foi uma surpresa boa. está na mesma faixa de preço da studio tmls, mas devo reconhecer que encontrei sapatos muito bons ali e lá foi o único lugar que eu encontrei o sapato exatamente como eu queria, pena que não tinha o meu número. aí, decepcionada, amuada, à toa e com tempo de sobra (afinal, eu estava sozinha, então fiz o meu itinerário no meu tempo), saí provando todos os sapatos que eu achava mais interessantes (coisa que eu também fiz na shoestock). o meu favorito foi um meia pata cinza muito badass que tinha ali. nesse momento minha animação geral melhorou, embora eu continuasse sem nenhum resultado positivo na minha busca. mas eu estava tão feliz colocando os sapatos e olhando no espelho que até uma vendedora que me atendeu riu da situação. afinal, já que eu havia falhado, só restava me divertir um pouco. terminado o momento lúdico na loja cara, fui para a minha última loja...

última parada, jorge alex:
se a shoestock me assustou, essa aí me deixou pasma. estava tão ou mais cheia, mas ali a carga de estrogênio estava infinitamente mais descontrolada. pra ser bem sincera, não achei a loja tudo isso, o lugar tava uma ZONA (os sapatos se amontoavam nas prateleiras, mostrando que as vendedoras, na gana de queimarem com todo o estoque, estavam claramente colocando mais sapatos do que as prateleiras comportavam), tinha mulher em tudo quanto era canto, parecia a 25 de março, só que com gente que tinha carro importado. isso sem falar que eu vi lá vários sapatos que estavam à venda na shoestock, mas eles tinham a etiqueta 'jorge alex' e, como se não bastasse, estavam MAIS CAROS! como lá eu também nem cheguei perto de encontrar o que eu queria, saí provando os pares mais feios e estranhos que eu encontrava, mas aí o excesso de gente não tornou a experiência tão divertida quanto nas outras lojas.


depois de quatro horas de empreitada, concluí que:
eu realmente odeio sapatos de bico fino e, infelizmente, eles são o que mais tem em todas as lojas. acho aquilo detestável, pelo menos em mim: parece sapato de alladin, como um amigo meu já disse e, sei lá, pra que usar um sapato que faz o seu pé parecer maior do que é, além de disforme?!
sapatos de decote raso são nojentos: não tem visão mais dantesca do que as fendas dos seus dedos saindo pelo sapato.
não sou uma pessoa pra usar chinelos ou sandálias: eu tenho o pé chato (o que, por sua vez, me torna uma pessoa também não apta ao serviço militar), então eu podia pegar as sandálias mais lindas do mundo, mas ao olhar para baixo eu tinha a clara sensação que os meus pés estavam se desfazendo para fora do sapato, algo que me lembrou muito aquela cena do indiana jones quando os nazistas abrem a arca perdida. fiquei traumatizada.
sapatos redondos são lindos e eu já estou de saco cheio de peep toe, tiras cruzadas e bico fino (eu sei, já falei, mas eu realmente odeio isso)... só tem isso nas lojas! é desesperador ver que, dentre 400 sapatos, você consegue encontrar só dois pares que são diferentes de todo o resto!
plataforma anabela de cortiça... coisa feia do inferno.
a física não explica como que é possível se equilibrar num salto agulha; eu nunca temi tanto pela minha vida...


no final das contas eu acabei descobrindo que tem uma loja aqui do lado de casa com o que eu queria, ou seja, eu nem precisava ter me dado a todo esse trabalho, mas valeu a experiência mesmo assim... me ajudou a escrever provavelmente uma das maiores (no tamanho, pelo menos) atualizações desse blog.

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