domingo, 8 de março de 2009

First watch

hoje assisti ao filme watchmen, apesar de nunca ter lido a hq na vida... sinceramente, não sei ainda o que pensar... logo que saí da sessão, devo dizer que não me animei muito com o filme. de certa maneira, tudo tinha um porém. o dr. manhattan é um personagem fantástico, mas o distanciamento que todos no filme sentem dele eu senti do próprio filme: uma falta de algo, de um elemento de conexão que me aproximasse da história e dos personagens. eu era uma observadora tão fora dos eventos ali mostrados quanto ele próprio. talvez isso fosse sintomático do ar bastante caricatural do filme, um ar geral kitsch que eu achei genial (totalmente anos 80), mas que talvez tenha contribuído para impedir essa catarse.
falando em anos 80, a trilha sonora é incrível (desenterraram 99 luftballoons da nena!), com músicas que pontuam cenas importantes, MAS, o uso excessivo de músicas simbólicas me pareceu uma trapaça, em um determinado momento: elas pareciam muletas para a história, como se as cenas por si só não fossem fortes o suficiente e precisassem de uma música para lhes acrescentar emoção, mas, justamente por serem excessivas, se sobrepunham à própria cena. mesmo assim, a abertura do filme, contando a evolução do grupo de heróis e a "evolução" do próprio mundo ao som de 'the times they are a changin' do bob dylan é provavelmente uma das seqüências mais bonitas que eu já vi:



as atuações transitam no mediano. por vezes são irregulares (alguns atores bons com outros bem fracos, como na cena que se passa no presídio, com um criminoso acompanhado dos seus capangas), mas não chegam a incomodar ou ser brutalmente deslocadas do clima geral do filme. não tecerei muitos comentários sobre o roteiro, porque quero ler a graphic novel agora para saber se os pontos principais da história foram bem amarrados...

fora isso, a parte estética do filme é absolutamente impecável. quando fez '300', snyder dirigiu um filme bem fraquinho com um visual fantástico (apesar daquele monte de homens com barriga de ab shaper e com um brilho bronze digno de passista de escola de samba). as seqüências de ação não são tantas como pode presumir algum espectador incauto (como eu), mas são tecnicamente perfeitas. há quem se incomode com a violência quase gore em alguns momentos do filme (já aviso, tem gente explodindo, cachorro comendo um pedaço de criança, braços sendo serrados fora e muitos membros do corpo sendo quebrados de forma bastante gráfica e por quase todos os personagens principais). para os fracos de estômago (como eu, novamente), talvez seja um choque grande ver essas cenas, mas, apesar de eu ser meio aversa a violência excessivamente gráfica em filmes, devo defender o uso disso neste filme pelo seguinte motivo: a violência representada ali não é gratuita e sem propósito. é a violência que criou os personagens e eles são frutos diretos dela e vivem a partir dela. e, considerando que vivemos em um tempo maluco em que a igreja acha condenável uma menina de 9 anos interromper uma gravidez de risco fruto de um estupro, a violência deste filme é um retrato (amplificado e insuportável de se assistir) da nossa própria condição - só pra ver como da década de 80 pra cá muita coisa continua na mesma, senão pior. eu admito que em uma cena eu não agüentei e cobri o rosto, mas isso foi só porque me falaram que era uma cena violenta, aí, frouxa que sou, não consegui assistir, apesar de ter visto (provavelmente) coisa bem pior desde que o filme tinha começado.

tenho cá as minhas dúvidas sobre 'watchmen' ser a bandeira de um novo momento nos filmes de quadrinhos. sinceramente eu acho que essa onda de mudança foi mais emblemática e forte no 'dark knight', inclusive pela parte técnica e visual. achei que 'watchmen' simboliza a solidificação dessa mudança. é um filme que atesta que 'não é porque é um filme de quadrinho que é infantil, que é caricato e as coisas vão terminar bem no final'. inclusive, este é um ponto em comum entre os dois filmes: você sai da sessão pensando 'final feliz é algo que depende muito do seu ponto de vista'.