segunda-feira, 14 de abril de 2008

Things have changed



diálogo que eu escuto hoje no ponto de ônibus, saindo da faculdade:

- nossa, lembro daqueles dias que a gente passou com 'fulano de tal'...
- pois é... como faz tempo, pensando agora... lembra daquela noite que ele chegou completamente cheirado?
- o cara era completamente maluco, mas era um sujeito excelente...

para quem lê isso, especialmente considerando que isso aconteceu perto do instituto de artes da unesp, parece uma conversa normal de jovens junkies que podem (ou não) estudar por lá. talvez para a surpresa de vocês (e com certeza para a minha naquele momento), os protagonistas desse diálogo eram dois velhinhos que pareciam beirar os 80 anos. talvez eles tivessem bem menos que isso, mas a gente sabe como as drogas detonam a cara das pessoas (keith richards que o diga).

naquele momento eu fiquei num misto de riso e surpresa. nessas horas eu acho que às vezes eu (ou, se eu quiser generalizar, a minha geração) sou muito mais quadrada e certinha do que eu me permito reconhecer. sim, ainda me espanto com velhinhos tatuados e ainda mais com tipos que conversam abertamente sobre drogas - acho que o ponto mais engraçado dessa conversa foi quando um deles virou pro outro e disse 'é, o éter era gostoso, você meio que sentia o nariz desligando o cérebro'; 'pois é, tinha de 20, 40, 60... frasco de plástico, vidro... eu preferia o de vidro, você conseguia ver o quanto tava usando... mas o éter foi proibido no brasil, né?'; 'pois é, rapaz, proibiram no brasil tudo o que era bom...'.

o pior de tudo foi que, no ônibus de volta para casa (eles ficaram lá no ponto, relembrando os tempos de livin' la vida loca deles), eu fiquei me perguntando POR QUÊ eu estava tão chocada. velhinhos não nascem velhinhos, eles foram adolescentes e adultos assim como nós, e, convenhamos, nada do que esta geração está fazendo é lá tão transgressor ou revolucionário como gostaríamos de pensar. assim, é fácil nos espantarmos com uma cena em que pessoas nascidas antes da segunda guerra mundial (e, talvez, até antes da primeira!) discutam sobre temas como esse com tanta desenvoltura.

eu me dei conta de como nós sabemos muito pouco do passado (e por isso temos um sentimento um tanto quanto petulante quanto ao presente) quando comecei a ler um livro chamado "Teorias da Tatuagem" (bastante interessante, por sinal) e, em um determinado ponto, bem no comecinho do livro, a autora começa a falar de como vários membros da nobreza européia adoravam se tatuar. ela até chega a contar a história de uma princesa alemã que, fascinada com as tatuagens japonesas, fez um dragão azul e vermelho ao longo de todo o braço! isso sem contar as inúmeras figuras históricas (desde tolstöi a jfk) que adoravam tatuagens ou que possuiam várias imagens revolucionárias na pele. isso é uma subversão que hoje em dia a nossa geração está longe de apresentar porque nada que é feito atualmente vai chocar tanto quanto o que já vem sendo feito ou que já foi feito há séculos, senão milênios atrás.

sei lá, nessas horas eu vejo como muitas vezes a gente pensa que sabe tudo e na verdade não sabe nem da metade...

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